“Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.” (Tg 1.15, NAA)


Cobiça, um desejo que se disfarça de necessidade

Você já sentiu um desejo tão intenso por algo que aquilo parecia essencial à sua felicidade?  

É assim que a cobiça age: sutil, sedutora, envolvente. Ela não grita — ela sussurra. Não exige — ela convence. A cobiça nos atrai e seduz — pinta mentiras com cores brilhantes e promete prazeres que não pode sustentar (cf. Tg 1.14-15; o texto mostra que o pecado nasce do desejo desordenado que engana e seduz o coração humano).

Esse desejo, embora comum a todos nós, não é inofensivo. Ele cresce dentro de nós, se alimenta da nossa insatisfação e, se não for confrontado, nos conduz a comportamentos destrutivos, à ruptura da comunhão com Deus e à morte espiritual.

A raiz da cobiça

cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz (Tg 1.14, NAA).

A palavra grega usada para “cobiçar” em Tiago 1.14 é ἐπιθυμέω (epithyméō) — que significa desejar com intensidade. Esse desejo pode ser tanto bom quanto mau, a depender de seu objeto e motivação (por exemplo, desejar conhecer a Deus é bom: Mt 13.17; desejar a mulher alheia é pecado: Mt 5.28).

A cobiça, portanto, é um desejo desordenado — é querer o que não nos pertence, o que Deus não nos deu, ou querer algo bom por motivos errados. Isso inclui ambição, inveja, ganância. E tudo começa dentro do coração.

O problema não está apenas no objeto do desejo, mas naquilo que o motiva: o coração insatisfeito que busca em coisas passageiras a alegria que só Deus pode dar (cf. Ec 5.10; Sl 16.11).

A cobiça nos afasta de Deus

Tiago 4.1-4 mostra os frutos amargos da cobiça: guerras, contendas, inveja, orações egoístas.  

A cobiça perturba nossos relacionamentos e nossa comunhão com Deus. Pior: ela revela que o nosso coração pode estar mais próximo do mundo do que do Senhor.

“A amizade do mundo é inimizade contra Deus...” (Tg 4.4).

Cobiçar é, portanto, uma forma de idolatria — é colocar algo ou alguém no lugar que pertence somente a Deus (cf. Cl 3.5; Ex 20.3). Por isso, a cobiça não pode ser tratada com leveza. Ela é semente de pecado.

O mandamento que nos adverte

Deus, em sua sabedoria, colocou um alerta claro no último mandamento: “Não cobiçarás…” (Êx 20.17)

Esse mandamento não se limita à ação externa, mas aponta para os desejos secretos do coração (diferente dos outros mandamentos que tratam de atos visíveis, este trata do mundo interior).

Quando alguém cobiça, ele diz com sua atitude: “Deus não me deu o suficiente.” Isso é ingratidão. É rebeldia contra a providência divina.

Por isso, quem vive alimentando esse desejo constante nunca se satisfaz — mesmo que tenha muito, sempre quer mais (cf. Pv 27.20). É como um poço sem fundo.

Um coração que dá, não que cobiça

A Bíblia traça um contraste belo em Provérbios 21.26: “O cobiçoso cobiça o dia todo, mas o justo dá e nada retém.” O cobiçoso é escravo do que não tem. O justo é livre para repartir o que possui.

O coração generoso é a antítese do coração cobiçoso. Onde há generosidade, há gratidão; onde há gratidão, há contentamento; e onde há contentamento, há paz (cf. 1Tm 6.6-8; 2Co 9.7).

Portanto, uma das formas mais práticas de vencer a cobiça é cultivar o contentamento e exercitar a generosidade — mesmo em pequenas coisas. Não é necessário ter muito para repartir. Basta ter um coração livre.

A luta contra os desejos ilícitos

A luta contra a cobiça é interna. Caim foi advertido por Deus: “O pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.” (Gn 4.7).


Essa luta exige vigilância, oração e autoconhecimento. Uma pergunta que pode nos ajudar a discernir os nossos desejos é: O que eu quero glorifica a Deus ou apenas satisfaz a mim mesmo? (cf. 1Co 10.31).

Em si, desejar não é pecado. O próprio Jesus desejou intensamente comer a Páscoa com os discípulos (Lc 22.15). Os profetas desejaram ver os dias do Messias (Mt 13.17). Há desejos santos e há desejos corrompidos. A cobiça, no entanto, é sempre egoísta, desordenada, impaciente e transgressora. 

O apóstolo Tiago é direto: “cada um é tentado pela sua própria cobiça” (Tg 1.14). O problema não está fora de nós, mas dentro. Não é apenas o que desejamos, mas por que desejamos. A cobiça nos atrai e seduz — ela pinta mentiras com cores brilhantes e promete prazeres que não pode sustentar. 

Ela é o motor de muitos pecados. Foi a cobiça que levou Eva a desejar o fruto proibido, que fez Acã esconder o ouro e as vestes babilônicas, que inflamou os corações de Ananias e Safira. A cobiça nos faz ignorar os mandamentos de Deus em troca de uma satisfação imediata — e passageira.

Aqueles que vivem motivados por desejos egoístas terão dificuldade de buscar a Deus com sinceridade, pois sempre terão “segundas intenções”. A cobiça corrompe até mesmo a oração. (cf. Tg 4.3).  

Mas há esperança: A Palavra de Deus nos ensina que devemos andar pelo Espírito e não satisfazer os desejos da carne (Gl 5.16), o que significa submeter nossos anseios ao governo de Cristo.

Ao confessarmos nossos desejos diante de Deus e pedirmos discernimento, o Espírito Santo nos capacita a mortificar os impulsos carnais (Rm 8.13) e a cultivar desejos santos. Além disso, meditar nas Escrituras renova nossa mente, nos levando a praticar aquilo que é puro, bom e santo (Rm 12.2). Dessa maneira, nossos afetos são direcionados para aquilo que glorifica a Deus e edifica os outros.

Portanto, vencer os desejos impróprios não é uma conquista humana, mas fruto de uma vida rendida a Cristo, firmada nas Escrituras e fortalecida pelo Espírito.

Conclusão

O remédio para a cobiça é o contentamento em Deus. Cobiça não se vence apenas com força de vontade. Vence-se com satisfação em Deus. Quando Deus é o nosso maior tesouro, os outros desejos perdem seu brilho.

Cristo é o exemplo perfeito: mesmo tendo tudo, esvaziou-se de si para nos dar vida. Ele não buscou o que era seu, mas entregou-se por nós (cf. Fp 2.5-8). 

Portanto, sejamos imitadores de Cristo. Que nossos desejos sejam moldados pelo Espírito, guiados pela Palavra e sustentados pela fé.

E que possamos orar como Agur:

Não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário (Pv 30.8).

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NAA - Bíblia Nova Almeida Atualizada.

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