“Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro” (Sl 40.1, NAA).
Quando clamamos ao Senhor, ele nos socorre. É preciso esperar confiadamente pelo seu agir. Podemos aguardar orando, discernindo e confiando.
1. A oração fortalece a fé durante a espera
Você já sentiu desejo de orar, mas o desânimo foi maior? Isso é comum! Constantemente nos sentimos cansados ou desanimados para dedicar um tempo e concentração para orar.
No entanto, é importante saber que a oração é um privilégio, pois nos conecta diretamente com o Criador. É por isso que a Bíblia nos ensina que devemos sempre orar.
Quando oramos a Deus, podemos ter a certeza que ele está nos ouvindo ainda que pareça estar em silêncio. Nesse momento parece que surge a seguinte dúvida: "Será que Deus está ouvindo minha oração?"
Ricardo Barbosa, afirma:
Sei que Deus é bom e misericordioso, embora nem sempre consiga compreender sua bondade. Sei que ele é o Senhor da vida e da história, e que nenhum fio de cabelo cai de nossa cabeça se não for com seu consentimento. Sei que Deus é eterno e o mesmo sempre, ele nunca muda. Portanto, se algo ou alguém precisa mudar, isso tem a ver comigo, não com ele. Contudo, não posso negar os sentimentos de desolação e vazio que enfrento todos os dias, nem a pergunta que não cessa de gritar na minha mente: por que Deus não respondeu às nossas orações?[1]
O autor reconhece que, embora a dor e o vazio sejam profundos, a presença amorosa de Deus não pode ser ignorada. Em outras palavras, Deus ouve a oração e nos fortalece enquanto aguardamos o seu agir. Isso porque Deus é bom e misericordioso.
No Salmo 57, Davi ora: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia, pois em ti a minha alma se refugia; à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades” (Sl 57.1, NAA).
Davi está convicto de que Deus é misericordioso. Com isso em mente, ele busca refúgio no Senhor e espera com paciência embaixo das asas divinas até que a sua calamidade passe.
Portanto, clamar a Deus e esperar pelo seu agir é sábio, prudente e devido. Ore e espere! Esperar é preciso e a oração é o meio pelo qual somos fortalecidos enquanto esperamos pelo sim ou pelo não de Deus, discernindo a sua vontade.
2. Discernindo com paciência a resposta de Deus
Diz o ditado popular: quem tem pressa come cru e quente. O sentido do ditado é que a pressa estraga o que poderia ser aproveitado melhor. Nesse sentido, a paciência é uma virtude que nos permite desfrutar melhor das promessas de Deus.
É durante a espera que aprendemos que Deus não age segundo o nosso tempo, mas nunca falha em agir no tempo certo. Enquanto Ele parece calado, na verdade está nos treinando para reconhecê-Lo de forma mais profunda. Está moldando nosso coração para que, quando a resposta vier, possamos recebê-la com gratidão e maturidade.
Muitos personagens das Escrituras precisaram aprender a esperar com paciência pelo cumprimento das promessas de Deus. Jó, por exemplo, mesmo em meio ao sofrimento mais profundo, discerniu suas palavras para não pecar contra Deus e perseverou confiando na fidelidade divina. No final da sua espera declarou:
Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem (Jó 42.5, NAA).
Abraão também é lembrado por sua fé, mas sua história nos mostra que discernir com paciência é importante, pois viveu a consequência da precipitação.
Quando Deus prometeu a Abraão um filho, a demora no cumprimento da promessa levou ele e Sara a tomarem uma decisão precipitada. Em vez de esperarem com confiança no tempo de Deus, decidiram agir por conta própria, e isso resultou no nascimento de Ismael, filho de Hagar, a serva egípcia (cf. Gn 15–17). Essa atitude gerou conflitos familiares e consequências que ecoariam por gerações.
Por isso a paciência é tão importante na caminhada cristã. Davi nos ensina no Salmo 40 a “esperar confiantemente”. A palavra hebraica qavá, traduzida como 'esperar confiantemente', carrega o sentido de uma corda esticada sob tensão — algo que resiste, mas não se rompe. Assim é a fé que espera: firme mesmo sob pressão. Ela é resistente.
2.2. A paciência nas Escrituras
Em vários momentos da Escritura, homens e mulheres de fé experimentaram longos períodos de silêncio da parte do Senhor. Não foi castigo, mas um tempo necessário de amadurecimento. O próprio Jesus, no Getsêmani, orou com angústia — e o céu permaneceu em silêncio.
Quando Jesus orou, clamou por não sofrer o cálice da ira de Deus, mas ressaltou que a vontade de Deus seria soberana sobre a sua própria. Prevaleceu a vontade soberana de Deus, e Jesus foi crucificado.
Nesse sentido, precisamos amadurecer na forma como recebemos a resposta de Deus. Precisamos estar de acordo com ela, mesmo que não esteja de acordo com o nosso desejo.
Devemos sondar o nosso coração enquanto oramos, porquanto, boa parte das vezes que oramos, estamos expressando a nossa vontade e não nos submetemos a vontade de Deus. Em outras palavras, queremos que Deus nos atenda e ponto.
Esse comportamento mais se parece com rebeldia do que com submissão a vontade de Deus. Todavia, a espera revela prudência e confiança no Senhor para receber o seu melhor.
Sobre isso, Ricardo Barbosa nos direciona para uma reflexão sábia sobre o nosso comportamento diante de três possíveis respostas de Deus. Elas podem ser sim, não e espere.
Ele explica:
Quando a resposta de Deus é sim, ninguém duvida que ele respondeu; testemunhamos com grande alegria aquilo que Deus fez, como um atleta que sobe vitorioso no pódio exibindo a medalha que conquistou. Mas parece-me que o “não” nem sempre vem com a mesma certeza do “sim”; é como se fosse uma conclusão por exclusão. Já que o “sim” não aconteceu, certamente a resposta é “não”, o que torna a “vontade de Deus” fatalista e negativa. Paulo orou para que Deus removesse o que ele chamou de “espinho na carne”, e a resposta de Deus foi “não”, mas, junto com a negativa, veio a resposta positiva: “A minha graça te basta” (2Co 12.7–10). O “não” para Paulo não foi simplesmente a ausência do “sim”, mas uma resposta mais rica do que aquilo que ele havia suplicado. Quando alguém apresenta sua necessidade diante de Deus, espera receber dele aquilo que foi suplicado, seja a libertação de um vício, a conversão de uma pessoa querida, a transformação de um relacionamento conflituoso ou a cura de uma enfermidade. Quando nada acontece, dificilmente entendemos como um “não” ou um “espere”. Simplesmente Deus não respondeu, e precisamos lidar com isso.[2]
De acordo com o autor acima, sujeitar-se a vontade de Deus revela a nossa verdadeira submissão ao Senhor. Ele pode dizer sim, não ou espere! Importa que confiemos em sua decisão, pois como Deus já declarou:
Eu é que sei que pensamentos tenho a respeito de vocês, diz o SENHOR. São pensamentos de paz e não de mal, para dar-lhes um futuro e uma esperança. Então vocês me invocarão, se aproximarão de mim em oração, e eu os ouvirei. Vocês me buscarão e me acharão quando me buscarem de todo o coração (Jr 29.11-13, NAA).
Uma vez que Deus sempre tem o melhor para nós, esperemos confiadamente em seus planos.
3. Confiança na soberania de Deus é nosso descanso
Buscar a Deus em sincera oração revela uma dependência consciente de Deus e de seus cuidados, mesmo que tudo pareça um grande silêncio.
A cruz de Cristo continua sendo o maior testemunho de que, mesmo quando tudo parecia silêncio e derrota, Deus estava trabalhando para realizar o maior bem da história: a nossa salvação.
Logo, o silêncio de Deus não significa sua ausência ou sua falta de conhecimento do que está acontecendo conosco. Ele está presente mesmo quando não percebemos, como aconteceu com os discípulos no barco (Mc 4.35–41). Durante a tempestade o medo se abateu sobre os discípulos quando o mar os sacudia dentro do pequeno e frágil barco e o vento soprava forte e frio sobre eles. Contudo, Deus estava ali o tempo todo e, no momento exato, se levantou e acalmou o mar.
Nossos sentidos podem falhar, mas a fidelidade de Deus permanece e jamais nos abandona no meio da tempestade. Por isso, confiar na soberania de Deus é descansar no abrigo seguro.
Descansar na soberania de Deus é confiar que Ele continua sendo bom, mesmo quando não entendemos Seus caminhos. A fé não exige explicações, mas confiança.
Elben M. Lenz nos lembra que:
A confiança em Deus é especialmente válida em circunstâncias adversas e em situações difíceis. 1. É preciso confiar em Deus “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte” (Sl 23.4); 2. É preciso confiar em Deus “ainda que um exército se acampe contra mim” (Sl 27.3); 3. É preciso confiar em Deus “ainda que as águas tumultuem e espumejem, e na sua fúria os montes se estremeçam” (Sl 46.3); 4. É preciso confiar em Deus “ainda que as figueiras não produzam frutas, e as parreiras não deem uvas; ainda que não haja azeitonas para apanhar nem trigo para colher; ainda que não haja mais ovelhas nos campos nem gado nos currais” (Hc 3.17).[3]
Foi colocando essa confiança em prática que muitos heróis da fé caminharam anos sem ver respostas, mas nunca deixaram de confiar. Hebreus 11 nos mostra homens e mulheres que “morreram na fé, sem ter obtido as promessas, vendo-as, porém, de longe” (Hb 11.13). Essa, portanto, é a fé que glorifica a Deus, que descansa e espera.
Por isso, continue orando, mesmo que a resposta não venha no tempo desejado. Continue esperando, mesmo que o silêncio pareça longo. Lembre-se que Deus está no barco. Ele trabalha ativamente na história.
Seja o sim de Deus ou o não, é preciso esperar com paciência. Apenas confie e espera, pois o silêncio de Deus também é resposta. Busque discernir todas as coisas com paciência e sabedoria.
______________________________________________
👉 Leia outra reflexão no blog!
______________________________________________
[1] DE SOUSA, R. B. Quando a Alegria Não vem Pela Manhã: As Parábolas de Jesus e a Oração Não Respondida. 1. ed. Viçosa, MG: Ultimato, 2021. p. 19–20.
[2] Ibidem, p. 20.
[3] CÉSAR, E. M. L. Práticas Devocionais. 4. ed. Viçosa, MG: Ultimato, 2005. p. 116.
0 Comments
Postar um comentário