Introdução

A Teologia Sistemática proporciona uma compreensão mais profunda e embasada das verdades bíblicas. Neste post não seremos profundos na explanação, pois buscaremos somente trazer um conceito relevante e apresentar as áreas atuantes da Teologia Sistemática.

Conceito de Teologia Sistemática

A Teologia Sistemática pode ser definida como um campo de estudo que busca organizar e sistematizar as doutrinas fundamentais do cristianismo com base nas Escrituras Sagradas, “é uma articulação racionalmente ordenada, abrangente e coerente das crenças cristãs”. [1]

Ela abrange uma gama de tópicos teológicos, visando integrar coerentemente cada um deles. Assim ela estabelece uma estrutura teológica que conecta e relaciona as várias doutrinas bíblicas entre si. 

Além disso, a Teologia Sistemática dialoga com outras disciplinas teológicas, como a hermenêutica, a história da igreja, a filosofia e a ética, a fim de fornecer uma perspectiva mais completa e embasada.

Partindo da premissa de que a base fundamental da Teologia Sistemática é a Bíblia, seu estudo se torna relevante para a vida cristã, porquanto, expõe a sua capacidade de fortalecer a fé ao explicar sistematicamente o agir de Deus, como por exemplo, na criação, na provisão e na salvação. 

É tão somente do agir de Deus que brotam as doutrinas bíblicas, tais como a eleição, o chamado, a regeneração, a justificação, adoção, santificação e a perseverança dos santos.

Nesse sentido, ela contribui para que os cristãos possam compreender de forma mais profunda as verdades reveladas na Palavra de Deus e, consequentemente, desenvolvam o seu conhecimento acerca de Deus. 

Conforme exposto, toda teologia trata de Deus e da sua revelação. E toda ferramenta considerada teológica visa contribuir para o verdadeiro e puro conhecimento que se pode ter de Deus, em conformidade com a sua própria revelação escriturística, a Bíblia Sagrada.

Lewis Sperry Chafer, explica:

O termo Teologia, segundo os seus aspectos etimológicos, é um vocábulo composto de duas palavras gregas – Θεός (theos, ‘Deus’), e λόγος (logos, ‘discurso’ ou ‘expressão’). Tanto Cristo, a Palavra Viva, quanto a Bíblia, a Palavra Escrita, são Logos de Deus. Eles são para Deus o que a expressão é para o pensamento e o que o discurso é para a razão. A teologia é, portanto, a Θεο-λογία (Theo-logia) ou discurso sobre um assunto específico, a saber, Deus.[2].

Assim como a Teologia é o estudo sobre Deus, a Teologia Sistemática procura organizar esse conhecimento de forma lógica e prática para o estudo teológico.

Em suma, a Teologia Sistemática é uma disciplina que busca organizar, sistematizar e integrar as doutrinas fundamentais do cristianismo, fornecendo uma base teológica sólida para a fé e a prática cristãs. 

Divisões da Teologia Sistemática

A Teologia Sistemática é geralmente dividida em sete áreas que abrangem as principais doutrinas e temas teológicos. Essas divisões podem variar de ordem de exposição dependendo do autor. 

Vejamos de forma resumida as áreas da Teologia Sistemática.

1. Teontologia ou Teologia Própria

Esta área da Teologia Sistemática se concentra no estudo de Deus. Ela examina os atributos, a natureza e a soberania de Deus, bem como a Trindade, isto é, a relação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

No princípio, criou Deus os céus e a terra (Gn 1.1).

2. Cristologia

A Cristologia é o estudo da pessoa e obra de Jesus Cristo. Ela explora a encarnação, a natureza divina e humana de Cristo, sua morte, ressurreição e ascensão, bem como seu papel como o Messias e Salvador.

Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles (Mt 1.21). 

3. Pneumatologia

A Pneumatologia é o estudo do Espírito Santo. Ela investiga a natureza, os dons e o papel do Espírito Santo na vida do crente, na igreja e no mundo.

Até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias (Jl 2.29).

4. Antropologia

A Antropologia examina a natureza e a condição humana à luz da revelação divina. Ela aborda questões como a criação do ser humano, a queda e a redenção em Cristo.

Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente (Gn 2.7). 

5. Soteriologia

A Soteriologia é o estudo da salvação. Ela explora a obra redentora de Cristo, a justificação pela fé, a regeneração, a adoção, a santificação e a glorificação dos crentes.

Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego, (Rm 1.16).

6. Eclesiologia

A Eclesiologia se concentra no estudo da igreja. Ela examina a natureza, a missão, a liderança e os sacramentos da igreja, bem como as questões relacionadas à comunhão e ao corpo de Cristo.

Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18).

7. Escatologia

A Escatologia é o estudo dos últimos tempos e do futuro. Ela aborda tópicos como a segunda vinda de Cristo, a ressurreição dos mortos, o juízo final, o céu, o inferno e o estabelecimento definitivo do Reino de Deus.

Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se? Ap 6.15–17).

Embora sejam apenas sete áreas de atuação da Sistemática, seu conteúdo é denso e profundo. Muitos estudiosos, como os teólogos reformados, dedicaram boa parte da sua vida para estudar, conhecer e explicar com a maior clareza possível os pontos mais complexos da Teologia.

Teólogos Reformados

Hoje, a fé cristã deve muito a esses teólogos que foram ao longo da história, levantados por Deus para contribuir com o reino de Deus ao compartilhar seus escritos e sua teologia. Aqui estão alguns dos principais expoentes:

Martinho Lutero (1483-1546):

Lutero, embora seja mais conhecido por seu papel na Reforma Protestante, também contribuiu significativamente para a Teologia Sistemática. Ele enfatizou a justificação pela fé, a autoridade das Escrituras e a doutrina do sacerdócio de todos os crentes. Suas obras, como "A Liberdade do Cristão" e "A Bondade do Homem", contêm uma teologia profunda e sistemática.

João Calvino (1509-1564):

Calvino é amplamente considerado um dos maiores teólogos reformados e um dos principais expoentes da Teologia Sistemática. Sua obra mais famosa é a "Institutas da Religião Cristã”. Hoje são publicadas como “As Institutas”, vol. 1–4, pela Editora Cultura Cristã.

É sem dúvida uma obra monumental que abrange todos os principais temas teológicos. Calvino enfatizou a soberania de Deus, a predestinação, a autoridade das Escrituras e a glória de Deus como propósito supremo da vida humana.

Calvino diz que:

é notório que o homem jamais chega ao puro conhecimento de si mesmo até que haja antes contemplado a face de Deus, e da visão dele desça a examinar-se a si próprio [3].

Charles Hodge (1797-1878):

Hodge foi um teólogo reformado americano e professor no Seminário Teológico de Princeton. Sua obra mais conhecida é "Teologia Sistemática", uma abordagem abrangente e sistemática das doutrinas cristãs. 

Sua obra atualmente é publicada pela Editora Hagnos. Obra que defende firmemente a autoridade das Escrituras, a doutrina da predestinação e a necessidade da graça divina na salvação.

Segundo Hodge:

a Bíblia contém as verdades que o teólogo precisa coligir, autenticar, organizar e demonstrar em sua relação natural umas com as outras [4]. 

Herman Bavinck (1854-1921):

Bavinck foi um teólogo reformado holandês conhecido por sua obra "Teologia Sistemática". Atualmente estão publicadas pela Cultura Cristã em um conjunto de quatro livros denominados como “Dogmáticas Reformada”, volumes 1–4. 

Sua abordagem equilibrada e abrangente aborda questões teológicas em profundidade, cobrindo áreas como Deus, Cristologia, Pneumatologia, soteriologia, eclesiologia e escatologia. Bavinck foi altamente influente e é amplamente lido e estudado até hoje.

Ele afirma que:

Através da revelação, Deus se faz conhecido a nós como a causa eficiente e primária de todas as coisas. A Sagrada Escritura é a causa interna instrumental eficiente da teologia, e a revelação divina também requer a iluminação interna do Espírito Santo. Assim, identificamos três princípios fundamentais para a teologia: Deus é o fundamento essencial (principium essendi); a Escritura é o fundamento externo cognitivo (principium cognoscendi externum); e o Espírito Santo é o princípio interno do conhecimento (principium cognoscendi internum). Os fundamentos da teologia, portanto, são trinitários: O Pai, através do Filho como Logos, se comunica com suas criaturas no Espírito [5].

Louis Berkhof (1873-1957):

Berkhof, um teólogo reformado holandês-americano, é conhecido por sua obra "Teologia Sistemática". Sua abordagem é caracterizada pela clareza, precisão e organização sistemática. Berkhof cobre uma ampla gama de temas teológicos, fornecendo uma visão abrangente e acessível da teologia reformada.

Berkhof afirma que:

As obras de dogmática ou de Teologia Sistemática geralmente começam com a Doutrina de Deus. A opinião prevalecente tem reconhecido sempre este procedimento mais lógico, e ainda continua apontando na mesma direção. Em muitos casos, mesmo aqueles cujos princípios fundamentais pareceriam exigir outro arranjo, continuam na prática tradicional. Há boas razões para começar com a doutrina de Deus, se partirmos da admissão que a teologia é o conhecimento sistematizado de Deus de quem, por meio de quem, e para quem são todas as coisas [6]. 

Assim como as Institutas de Calvino, As Dogmáticas de Bavinck, as principais obras de Berkhof também são publicas pela Editora Cultura Cristã. 

Esses são apenas alguns dos principais expoentes da Teologia Sistemática. Cada um deles contribuiu significativamente para a compreensão e desenvolvimento da teologia reformada, e suas obras continuam a ser estudadas e apreciadas por teólogos e estudantes até os dias de hoje.

Conclusão

Ao estudar a Teologia Sistemática, os cristãos têm a oportunidade de conhecer mais de Deus e mais de si mesmo, pois sua missão é fornecer uma compreensão abrangente dos ensinamentos bíblicos e oferecer orientação teológica para a vida cristã.

Seus principais expoentes deixaram legados importantes e fundamentais que permanecem ainda hoje colaborando com a fé cristã ao longo dos séculos. Recomendamos fortemente a leitura dos seus escritos, pois são riquíssimos em conceitos e fundamentações bíblicas que alimentam a alma e o conhecimento acerca das obras divinas. 

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[1] Mark D. Baker, Timoteo D. Gener, e Frank Macchia, “Teologia Sistemática”, in Uma Obra de Referência para a Igreja em Todo Mundo: Dicionário Global de Teologia, org. William A. Dyrness, Veli-Matti Kärkkäinen, e Juan Carlos Martinez, trad. Lucy Yamakami et al. São Paulo, SP: Hagnos, 2017, p. 975.]

[2] Lewis Sperry Chafer, Teologia Sistemática, org. Juan Carlos Martinez, trad. Heber Carlos de Campos, 3. ed., São Paulo: Hagnos, 2013, p. 47, v. 1.

[3] João Calvino, As Institutas, trad. Waldyr Carvalho Luz, Edição Clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 42, vol. 1.

[4] Charles Hodge, Teologia Sistemática, trad. Valter Martins, 1. ed.,São Paulo: Hagnos, 2001, p. 1.

 [5] Herman Bavinck, Prolegômena, org. John Bolt, trad. Vagner Barbosa, 1. ed. Dogmática Reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 207, vol. 1.

[6] Louis Berkhof, Teologia Sistemática, trad. Odayr Olivetti, 4. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 19.