As Escrituras são claras em dizer que há um só Deus, digno de honra e louvor. Diante disso, buscaremos entender como o Espírito Santo é Deus, a luz das Escrituras.
Há um só Deus
As Escrituras são claras em dizer que há um só Deus, digno de honra e louvor. Ela não admite adoração a deuses por expor a existência de um único Deus vivo e verdadeiro.
As Escrituras ensinam que o Senhor é o único Senhor, o qual deve ser amado de todo coração, alma e força:
Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força (Dt 6.4–5).
Outrossim, ao ser questionado sobre o principal mandamento, o próprio Cristo afirmou que o principal mandamento é que o único Senhor deva ser amado de todo o coração:
Marcos 12.28-30
Qual é o principal de todos os mandamentos? Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor!Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.
Ademais, a Confissão de Fé de Westminster (CFW) admite haver um só Deus, e corroborando com uma definição bíblica para o assunto, diz:
Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e suas perfeições. Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões, é imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo para sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro galardoador dos que o buscam, e, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo pecado; de modo algum terá por inocente o culpado (Dt 6.4; 1Co 8.4,6; 1Ts 1.9; Jr 10.10; Jó 11.7–9; Jó 26.14; Jo 4.24; 1Tm 1.17; Dt 4.15,16; Lc 24.39; At 14.11,15; Tg 1.17; 1Rs 8.27; Sl 90.2; Sl 145.3; Gn 17.1; Rm 16.27; Is 6.3; Sl 115.3; Êx 3.14; Ef 1.11; Pv 16.4; Rm 11.36; Ap 4.11; 1Jo 4.8; Êx 36.6,7; Hb 11.6; Ne 9.32,33; Sl 5.5,6; Na 1.2,3).1
Cada afirmação da CFW acerca de Deus está pautada em textos bíblicos conforme se pode observar acima.
Assim cremos haver um só Deus, vivo e verdadeiro, o qual deve ser adorado e amado com todas as forças.
O Espírito Santo é um Deus Trino
Quando afirmamos que o Espírito Santo é um Deus Trino é porque ele faz parte da Trindade santa. Significa que ele é um só Deus em harmonia com o Pai e o Filho.
Gonzáles explica que a Trindade é uma:
doutrina na qual Deus, ao mesmo tempo em que é uno, existe eternamente em três “pessoas”, que geralmente recebem o nome de Pai, Filho e Espírito Santo. A própria palavra “Trindade” não aparece nas Escrituras.2
Conforme observado por González, o termo Trindade não aparece nas Escrituras. Contudo, o Espírito Santo está em toda parte, assim como o Deus na figura do Pai, e Cristo na figura do Filho.
Vejamos algumas referências Bíblicas que indicam a presença do Espírito Santo:
No Antigo Testamento:
No Antigo Testamento o Espírito Santo é presente na criação e na capacitação de pessoas para a glória do Senhor. Vejamos algumas passagens que revelam a manifestação do Espírito.
- A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas (Gn 1.2).
- Disse Faraó aos seus oficiais: Acharíamos, porventura, homem como este, em quem há o Espírito de Deus? (Gn 41.38).
- e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício (Êx 31.3).
- Então, o Espírito do SENHOR revestiu a Gideão, o qual tocou a rebate, e os abiezritas se ajuntaram após dele (Jz 6.34).
Assim como atuou poderosamente no Antigo Testamento, o Espírito permanece atuante também no Novo Testamento.
No Novo Testamento
- Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo (Mt 1.18).
- A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo (Mt 4.1).
- Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; (Mt 28.19).
De acordo com os textos apresentados, o Espírito é presente ainda no Novo Testamento, além de outras passagens não listadas aqui.
Porém, todos os versos citados fazem referência a Sua obra, estando em perfeita harmonia com a vontade Trina. Especialmente, a passagem de Mateus 28.19 em que Jesus ordena o batismo em nome de cada uma das pessoas da Trindade.
Ademais, de acordo com a CFW:
Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade – Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. O Pai não é de ninguém – não é gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho (Mt 3.16,17; Mt 28.19; 2Co 13.13; Jo 1.14,18; Jo 15.26; Gl 4.6).3
Ainda, o Catecismo Maior de Westminster oferece um conceito fundamentado na Escritura acerca desse assunto. Vejamos:
- Pergunta 9. Quantas pessoas há na Divindade?
- Resposta: Há três pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; essas três pessoas são um só Deus verdadeiro e eterno, da mesma substância, iguais em poder e glória, embora distintas pelas suas propriedades pessoais (Mt 3.16–17; Mt 28.19; 2Co 13.13; Jo 10.30).4
Observa-se que a presença do Espírito Santo na Trindade é amplamente ensinada pelas Escrituras e fortemente compreendida e defendida por uma grande parte dos teólogos, especialmente os reformados.
O Espírito Santo é pessoal
O fato de o Espírito Santo ser pessoal está diretamente ligado às suas ações e interações com todas as coisas, seja na criação como no relacionamento com a humanidade.
As Escrituras informam que o Espírito foi prometido para agir de modo particular no homem, para que este pudesse refletir a imagem de Cristo Jesus como um modo de vida.
Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim; e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio. (Jo 15.26–27).
Tanto a palavra Consolador como Espírito estão escritas com letras maiúsculas, indicando nome próprio do sujeito da frase. No caso acima, os dois nomes, Consolador e Espírito se referem a mesma pessoa, o Espírito Santo.
Jesus consolou os seus discípulos acerca da sua ausência, preparando-os para receberem o mover do Espírito Santo.
Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei (Jo 16.7).
A passagem apresentada continua:
quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir (Jo 16.13).
De acordo com texto acima, o Espírito se relaciona conosco ao conduzir-nos pelo caminho da verdade, que é Cristo. O seu agir é caracterizado pelo seu consolo, sendo algo íntimo e pessoal.
O Espírito Santo possui autoridade
As Escrituras afirmam a autoridade do Espírito Santo. O próprio Cristo proclamou a autoridade do Espírito guando ordenou que se batizasse em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19).
Outra porção bíblica importante que revela a autoridade do Espírito e o apresenta como Deus, está registrado no livro de Atos dos Apóstolos, no capítulo 5.
Ananias e Safira morreram por mentirem ao Espírito Santo, o qual é Deus. Vejamos:
Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas, em acordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos. Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus (At 5.1–4).
O apóstolo Pedro está afirmando com clareza de que o Espírito Santo é Deus, e como tal, conhece todas as coisas e exerce toda autoridade, inclusive, sobre a vida.
Sendo, portanto, Deus, o Espírito Santo castigou Ananias e Safira por sua afronta mentirosa. A condenação deles não foi por causa do dinheiro, mas pela mentira.
Adão Carlos Nascimento, comentando essa passagem de Atos, afirma:
Mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus, prova de que o Espírito Santo é Deus. O Pai é Deus; o Filho é Deus; o Espírito Santo é Deus. Três pessoas, um só Deus.5
Ademais, Sproul declara:
Portanto, a mentira que Ananias falou ao Espírito Santo, ele a falou realmente a Deus. A implicação clara é que o Espírito Santo é Deus.6
Portanto, o Espírito Santo é Deus e não admite mentiras, pois o mesmo é santo e deve ser adorado como tal.
O Espírito Santo na Teologia Sistemática
No campo dos estudos teológicos, especialmente na Teologia Sistemática, é comum observar que as três pessoas da Trindade são dispostas em ordem, como: primeira, segunda e terceira pessoa.
Observe abaixo duas citações de exemplos:
- O nome aplicado à terceira pessoa da Trindade. Apesar de se nos dizer em Jo 4.24 que Deus é Espírito, o nome se aplica mais particularmente à terceira pessoa da Trindade.7
- Sem dúvida, um fato bíblico é que a relação entre a Primeira e a Segunda pessoa da Trindade é expressa pelos termos relativos Pai e Filho. Diz-se também que o Filho é gerado do Pai; declara-se ser ele o Filho unigênito de Deus. A relação, pois, da Segunda Pessoa com a Primeira é a de filiação.8
Conforme observado, as duas citações acima são de teólogos renomados que fazem uso dessa maneira de dispor as três pessoas da Trindade.
Embora essa prática seja comum, é preciso esclarecer que não se trata de uma disposição hierárquica. Muitas pessoas são induzidas pela própria consciência a crer numa disposição hierárquica entre a Trindade por conta desse uso, primeira, segunda e terceira pessoa.
Todavia, essa é apenas uma maneira de organizar as atribuições de cada uma das pessoas da Trindade. O Pai aparece com certas atribuições, enquanto que o Filho e o Espírito com outras distintas.
Portanto, seria um erro considerar aspectos de superioridade e inferioridade entre Trindade, pois, todas as três pessoas da Trindade são iguais em substância, poder e eternidade.
Bavinck, explica:
O Pai é apenas e eternamente Pai; o Filho é apenas e eternamente Filho; o Espírito é apenas e eternamente Espírito. E, como cada pessoa é, em si mesma, um modo eterno, simples e absoluto, o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. O Pai é Deus como Pai; o Filho é Deus como Filho; o Espírito Santo é Deus como Espírito Santo. E, como todos os três são Deus, eles participam da natureza divina única. Portanto, há apenas um Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Que ele seja adorado para sempre![^BAVINCK, Herman. Deus e a Criação. Dogmática Reformada, 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 313, vol. 2.][^BAVINCK, Herman. Deus e a Criação. Dogmática Reformada, 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 313, vol. 2.]
Conforme a explicação de Bavinck, as três pessoas da Trindade são eternamente iguais e absolutos, participantes de uma mesma natureza, sendo, portanto, um Deus.
Compreendendo os aspectos da Trindade
Compreender todos os aspectos da Divina Trindade pode ser confuso a nós, seres limitados e passageiros. Entretanto, podemos usar como analogia uma fruta chamada mexerica, para nos ajudar a compreender minimamente o aspecto da Trindade.
Imagine por instante ter em mãos uma mexerica. Observe que ela é apenas uma fruta, contudo, composta de três elementos importantes: casca, gomos e sementes. Se tirar qualquer um desses elementos da sua composição a fruta não será a mesma.
Por exemplo, é da semente que nasce a árvore que produz o fruto. Cada gomo armazena as sementes e o suco da fruta. A casca é a proteção da fruta para o seu crescimento e desenvolvimento dos seus gomos e sementes. Logo, a tríade é fundamental para a perfeição da fruta.
Ou seja, os três elementos (casca, gomo e semente) formam uma única fruta, perfeita e harmoniosa.
Assim, como a mexerica, podemos buscar entender a Trindade de modo semelhante no que tange a sua unidade divina e ao mesmo tempo a pessoalidade de cada parte. Imagine que Deus é a casca, que protege e dá o crescimento do fruto. Cristo é gomo que produz o sabor e protege a semente. O Espírito que é a semente, produz a árvore e seu fruto.
Note que todos esses elementos são responsáveis pela vida e permanência do fruto.
É claro que a figura da mexerica é um exemplo muito inferior para descrever a perfeição da Santa Trindade e o papel de cada uma das três pessoas. No entanto, nosso objetivo foi apenas demonstrar que em alguma medida é possível compreender, minimamente, a harmonia e a perfeição dos aspectos divinos da Trindade.
Assim, dissociar qualquer pessoa da Trindade seria um grave erro, como também, negar a sua harmonia e particularidade, aja vista que podemos perceber tal possibilidade observando uma simples fruta, criada pelo Deus Trino.
Conclusão
Dessa maneira concluímos o propósito deste breve post para defender e explicar que há um só Deus, vivo e verdadeiro, absoluto em seu ser e vontade. O qual subsiste em três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Contudo, as três pessoas são iguais em poder, eternidade e perfeição. Assim podemos afirmar que na perspectiva da Trindade, o Pai é Deus, Jesus é Deus e o Espírito Santo é Deus.
Assembleia de Westminster, Símbolos de Fé: Confissão de Fé, Catecismo Maior e Breve Catecismo, 2. edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 27–28. ↩︎
GONZÁLEZ, Justo. Breve Dicionário de Teologia. São Paulo, SP: Hagnos, 2009, p. 322–323. ↩︎
Assembleia de Westminster, Símbolos de Fé: Confissão de Fé, Catecismo Maior e Breve Catecismo, p. 29. ↩︎
Ibidem, p. 114. ↩︎
NASCIMENTO, Adão Carlos. A Bíblia é nossa testemunha: Uma breve história da interpretação, 2. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011, p. 23. ↩︎
SPROUL, R. C. Quem é o Espírito Santo? Questões Cruciais, 1. ed. São José dos Campos, SP: FIEL, 2013, p. 13, vol. 12. ↩︎
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática, 4 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 90. ↩︎
HODGE, Charles Hodge. Teologia Sistemática, 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 351. ↩︎