Ética Cristã

Introdução à Ética Cristã

Buscaremos expor de modo singelo a Ética Cristã, seus fundamentos e princípios. A ética está presente em todos os âmbitos da vida. Não existe um meio isolado da ética. Ela foi dada ao homem desde o princípio da criação e, desde então, passou a desempenhar um papel fundamental no comportamento e na ação humana.

Encontramos em Gênesis o relato de Deus instruindo a Adão à obediência (Gn 2.16–17). No entanto, Adão desobedece a Deus e em seguida acusa Eva de ser a responsável pela sua desobediência (Gn 3.9–12). Não muito distante da narrativa, temos o relato do assassinato de Abel, cometido pelo seu próprio irmão, Caim (Gn 4.8).

Nesse contexto, presenciamos o fundamento da ética sendo corrompido por Adão e Eva através da sua desobediência. Além da expulsão de Adão e Eva do jardim como consequência do seu erro, nos deparamos com o assassinato cometido por Caim.

Assim, a humanidade desde o princípio passou a decidir por si mesma entre o certo e o errado, entre obedecer e o desobedecer, entre o viver e o morrer.

Todavia, deve-se ressaltar que o rompimento da ética passou a conduzir a humanidade à sua própria ruína, pois ao romper com os fundamentos de Deus e viver por seus próprios princípios, a humanidade entrou em decadência espiritual e moral por causa do pecado.

Por isso, trataremos neste post os fundamentos e os princípios da ética cristã, pois encontramos em Deus o padrão ético para a humanidade. Além disso, a humanidade foi criada à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26). Logo, o ser humano é o espelho que deve refletir a imagem do seu Criador.

A Base Teológica da Ética Cristã

Deus é o fundamento da vida cristã, fazendo do seu caráter a base teológica da ética cristã. O caráter santo de Deus é revelado nas Escrituras para nortear a conduta humana, tanto religiosa como moral e social.

A humanidade foi criada a imagem e semelhança de Deus para viver a integridade do caráter divino. Logo, é seu dever refletir a imagem do seu Criador. Entretanto, aqueles que não são norteados pelas Escrituras estão rompendo com os princípios divinos e vivendo a relativização da ética.

A ética jamais deveria passar pelo relativismo, pois isso seria comprometer um princípio absoluto do certo e errado.

Augustus Nicodemus afirma que “Um dos grandes desafios dos cristãos de nossos dias é saber como se portar frente ao relativismo cultural, que vem sempre acompanhado de adversidade religiosa. São cada vez mais comuns frases como ‘Cada um tem a sua verdade’ e ‘O que é certo para mim pode não ser certo para o outro’”.1

O alerta de que o relativismo é um grande problema já foi passado. Esse é um mal que não deve fazer parte da vida cristã, fundamentada pela Palavra de Deus que diz que devemos dizer ‘sim, sim e não, não, pois o que passar disso vem do Maligno (Mt 5.37).

As Escrituras está repleta de alertas contra os perigos conceituais deste mundo, por exemplo, em Colossenses 2.8:

Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo (Cl 2.8).

Conforme a passagem Bíblica, os princípios que devem ser preservados são os de Cristo. Já os princípios desse mundo seguem as tradições humanas e como já vimos, elas conduzem a humanidade a sua própria ruína.

Segundo Field,

Toda a ética tem a ver com a conduta humana. O objetivo específico da ética cristã é relacionar um entendimento de Deus com a conduta dos homens e mulheres e, mais particularmente, usar da resposta a Deus que Jesus Cristo requer e torna possível.2

De acordo com Field, a conduta do homem não o isenta de sua responsabilidade, pois a verdadeira conduta ética é revelada na vontade de Deus em Cristo Jesus.

Em uma breve análise exegética da passagem de Mateus 28.20a: “ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado”,3 Esequias Soares afirma:

em “ensinado-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado”, é o verbo διδάσκω (didaskō), e isso inclui teologia e ética. O Senhor Jesus ensinou durante todo o seu ministério sobre Deus, sobre si mesmo, sobre o Espírito Santo, sobre os anjos, sobre o homem, sobre o pecado, sobre a expiação, sobre os anjos, sobre a igreja, sobre a morte, sobre a ressurreição dos mortos, sobre a sua vinda etc., mas ensinou também a teologia prática, a ética, aquilo que o cristão deve praticar no seu dia a dia.4

Nesse sentido, entendemos que a ética e a teologia caminham juntas e devem ser postas em prática pelo cristão, em cumprimento a vontade de Deus ensinada nas Escrituras.

Porém, quando a sociedade segue pelo caminho da ruptura com Deus, a relativização da ética é inevitável e o homem passa a adotar variantes que irão levá-lo a ruína. Sua incoerência será vista pelo seu comportamento diante do certo e do errado.

Portanto, as Escrituras são fundamentais para o conhecimento e prática dos princípios éticos que Deus exige do homem criado a sua imagem e semelhança, evitando a relativização dos princípios estabelecidos por Deus para a humanidade.

A Bíblia na Orientação Ética

Considerando que Deus é o fundamento teológico da ética cristã, e que Ele revela a sua vontade nas Escrituras, podemos concluir que a Bíblia é o fundamento que transmite os princípios éticos que Deus requer de cada ser humano.

Pois como está escrito em Efésios 5.5–7:

Porque vocês podem estar certos disto: nenhum imoral, ou impuro, ou ganancioso, que é idólatra, tem herança no Reino de Cristo e de Deus. Ninguém os engane com palavras tolas, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os que vivem na desobediência. Portanto, não participem com eles dessas coisas (Ef 5.5–7).

A passagem acima revela a santidade de Deus, sendo clara em reprovar a imoralidade e outras práticas pecaminosas, exigindo da humanidade um comportamento santo e moral. O texto é tão enfático que o seu alerta implica aos transgressores a exclusão do reino de Deus. Ademais, o texto fala ainda do castigo contra aqueles que praticam tais reprovações.

Sproul é enfático ao dizer que:

No âmago da ética cristã, há a convicção de que a base inabalável para conhecermos o verdadeiro, o bom e o correto é a revelação divina. O cristianismo não é um sistema de vida que opera na base de razão especulativa ou de conveniência pragmática. Afirmamos ousadamente que Deus nos revelou quem ele é e como espera que nos relacionemos com ele. Deus nos revelou o que lhe agrada e o que ele nos ordena. A revelação provê uma ajuda sobrenatural no entendermos o bem.4

Desse modo, a Bíblia contém toda a orientação que a humanidade necessita para cumprir a vontade de Deus e realizar o que é certo, rejeitando aquilo que Deus abomina. Tal como escrito em Efésios 5.8-10:

Porque outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Vivam como filhos da luz, pois o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade; e aprendam a discernir o que é agradável ao Senhor. (Ef 5.8–10).

Assim, os princípios que Deus requer de nós estão revelados na Bíblia, conforme observado por Cheung, que diz:

Visto que Deus é soberano sobre toda a sua criação, incluindo o homem, Deus é também aquele que define o relacionamento mais adequado entre ele e o homem. Esse é o fundamento da ética bíblica.5

Como visto, Deus se relaciona com o ser humano, e a Bíblia é o fundamento que revela os princípios que Deus requer da humanidade. Por exemplo, a verdade é um princípio ético que Deus requer que seja praticado sob qualquer circunstância.

A exemplo disso, podemos mencionar a quebra da verdade por Ananias e Safira que, ao mentirem a Pedro, mentiram primeiramente ao Espírito Santo e foram mortos por isso (At 5.1–11). Conforme diz as Escrituras que “Ninguém os engane com palavras tolas, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os que vivem na desobediência” (Ef 5.6).

A ênfase do texto é que a ira de Deus é aplicada sobre aqueles que desobedecem aos seus princípios. Ou seja, aos que mentem, matam, roubam, traem, fazem calúnia e etc…

A Bíblia contém todos os alicerces da ética de forma explícita nos dez mandamentos. Quatro desses se referem a ética religiosa, enquanto que as outras seis, a ética social (Êx 20; Dt 5).

Jesus as resumiu assim:

Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas (Mt 22.37–40).

Diante do exposto, encontramos na Bíblia a orientação ética que devemos colocar em prática. Essa prática dispõe do relacionamento para com Deus e os homens.

Ética no Contexto Contemporâneo

Como dito, princípios éticos estão presentes em todos os âmbitos da vida. Não existe ambiente fora da ética. Até mesmo entre traficantes existe um princípio ético, ainda que distorcido.

Por exemplo: Quando algum indivíduo compra drogas do traficante e não paga a sua dívida, ele é morto por causa da dívida como sinal de justiça. Embora o traficante esteja quebrando a lei, rompendo com a justiça, o seu princípio ético diz que ninguém pode cometer injustiça contra ele, no caso, a dívida, porquanto, isso seria ferir a sua moral.

Note que o princípio do certo e errado está presente em todos os âmbitos da sociedade. Claro que nesse sentido, a ética foi aplicada com um senso de justiça totalmente distorcido. Esse é o efeito do pecado!

Sproul declara que “decisões éticas permeiam todos os aspectos de nossas vidas. Nenhum campo ou carreira está imune a julgamentos éticos. Na política, na psicologia e na medicina, decisões éticas são feitas regularmente”.6

Considerando a presença da ética em todos os campos da vida humana como já exemplificado, é sensato dizer que ela NÃO pode ser um padrão relativo e conveniente a cada indivíduo. É preciso um padrão divino, santo e sem variáveis, que direcione a humanidade segundo o caráter de Deus.

Pois, “como cristãos, o caráter de Deus provê a nossa ética suprema, o padrão supremo pelo qual discernimos o que é certo, bom e agradável a ele”.7

Conforme mencionado, o caráter de Deus provê princípios para o ser humano, todavia, quando a sociedade ignora e não segue tais princípios, ela se imerge na loucura.

A título de exemplo, neste ano de 2023, uma das pautas do Supremo Tribunal Federal (STF) é a legalização do aborto. Nesse sentido, é possível perceber uma clara distorção dos princípios éticos, em que o assassinato de um semelhante, ainda no feto, sem ter praticado qualquer crime, se tornou pauta para a legalização no Brasil. Só o pensar nessa possibilidade a ética já foi corrompida!

Em outras palavras, o aborto jamais deveria ser um assunto em discussão, pois a vida é um presente divino. O próprio Deus já prescreveu nos dez mandamentos: “não matarás” (Êx 20.13). Ainda: não matarás o inocente e o justo (Êx 23.7).

O próprio Cristo resumiu os mandamentos em duas principais vertentes, amar a Deus de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento e ao próximo como a si mesmo (Mt 22.37–38). Logo, o amor a Deus e ao semelhante são princípios éticos e divinos.

Todavia, esses princípios têm sido ignorados pelas autoridades competentes.

Para comparação, observe um trecho do artigo abaixo, para compreender o que queremos dizer:

A primeira vez que as tartarugas marinhas foram citadas nominalmente como espécies em extinção e merecedoras de proteção especial foi na Portaria do Ibama, nº. 1.522, de 19 de dezembro de 1989. A proteção legal às tartarugas marinhas também passou por transformações de pensamento na sociedade e hoje a legislação brasileira dedica a elas uma proteção abrangente, proibindo tanto seu consumo direto como todas as formas de captura, abate, comércio e transporte. Na lista de animais em extinção em vigor, as cinco espécies de tartarugas marinhas continuam presentes (Portaria MMA nº 444, de 17/12/2014) (grifo nosso).8

De acordo com o artigo, a vida da tartaruga é protegida por lei, em contrapartida, o STF está discutindo se a vida do seu semelhante pode ser interrompida ainda na gestação. Ou seja, o feto indefeso pode ser abatido, enquanto que a de um animal, não.

O foco do assunto não é desprezar a vida do animal, mas expor a incoerência da ética humana, pois, o aborto por “conveniência” é um assunto que jamais deveria sequer, entrar em pauta de discussão. Todavia, quando a ética não é guiada pelos padrões divinos, o ser humano expressa o seu caráter sombrio e insano.

Se a vida de um animal importa, por que a vida do nosso semelhante tem menos valor? Não seria uma distorção óbvia de princípios? A vida humana não deveria ser protegida? Por que a vida de um animal é protegida por lei e a vida humana não? O “Direito Humano” perde o valor quando a “conveniência” fala mais alto? Isso é lamentável!

Sem o padrão divino, a ética sofre transtornos irreparáveis. O ser humano se perde em sua loucura. Como já escreveu o apóstolo Paulo: “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1.22, NVI). Esse é o retrato da sociedade contemporânea, a loucura sendo expressada através daqueles que se dizem sábios, que deveriam proteger a vida humana, mas pelas suas leis demonstram que ela é inferior à de um animal.

Os mandamentos são ignorados pela sociedade contemporânea, as autoridades viram o rosto para os valores fundamentais da existência humana. Não seria exagero dizer que há mais instinto protetor no reino animal do que na sociedade contemporânea.

Conclusão

O princípio ético está naturalmente implantado na sociedade. Contudo, a sociedade está corrompida para deter o verdadeiro senso do certo e o errado. As Escrituras é o verdadeiro fundamento da ética cristã, revelando os princípios éticos baseados no caráter de Deus. Tais princípios são para o próprio bem do ser humano (Dt 10.13), que por sua vez, cai em declínio quando os negligenciam.

Portanto, para termos uma sociedade com valores íntegros é preciso que o caráter de Deus seja refletido pela humanidade. Essa é a verdadeira ética cristã.


  1. NICODEMUS, Augustus. Cristianismo Descomplicado: Questões Difíceis da Vida Cristã de um Jeito Fácil de Entender, 1. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2017, p. 106. ↩︎

  2. FIELD, D. H. Ética. in Novo Dicionário de Teologia. São Paulo: Hagnos, 2011, p. 393. ↩︎

  3. Bíblia de Estudo Almeida Revista e Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002, Mt 28.20. ↩︎

  4. SPROUL, R. C. Como Devo Viver Neste Mundo? Questões Cruciais. Organizado por Tiago J. Santos Filho. Traduzido por Francisco Wellington Ferreira, 1. ed., São José dos Campos, SP: FIEL, 2013, p. 31, vol. 5. ↩︎

  5. SOARES, Esequias. Cristologia: a doutrina de Jesus Cristo; Cristologia. São Paulo: Hagnos, 2008, p. 133. ↩︎

  6. CHEUNG, Vincent. Questões Últimas. Traduzido por Marcelo Herberts, 1. ed., Brasília, DF: Editora Monergismo, 2009, p. 85. ↩︎

  7. SPROUL, 2013, p. 8, vol. 5. ↩︎

  8. SPROUL, R. C. Como Posso Desenvolver uma Consciência Cristã? Questões Cruciais. Organizado por Tiago J. Santos Filho. Traduzido por Mauricio Fonseca dos Santos Jr., 1. ed., São José dos Campos, SP: FIEL, 2014, p. 32, vol. 14. ↩︎

  9. Disponível em: https://www.tamar.org.br/interna.php?cod=111 último acesso em 03 out. 2023. ↩︎


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